A calprotectina é um biomarcador fecal que pode ser utilizado como uma ferramenta importante para o diagnóstico e monitoramento das doenças inflamatórias intestinais.
A Doença Inflamatória Intestinal (DII) e a Síndrome do Intestino Irritável (SII) são os distúrbios gastrointestinais mais frequentes em todo o mundo. Ambos trazem problemas para a vida dos pacientes, prejudicando sua qualidade de vida, capacidade de trabalhar e de ter uma vida social normal.
Nas duas condições os sintomas gastrointestinais crônicos são queixas frequentes. No caso da diarreia crônica é importante diferenciar causas orgânicas (DII) de causas funcionais (SII).
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Desafios no Diagnóstico das Doenças Inflamatórias Intestinais
O diagnóstico de DII é bastante complexo e inclui a associação de diferentes parâmetros bioquímicos, endoscópicos, radiológicos e exames de imagem.
As avaliações endoscópicas com confirmações histológicas são consideradas padrão ouro para ajudar a diagnosticar e monitorar a DII, pois permitem a visualização direta dos sinais de inflamação na mucosa intestinal.
No entanto, essas abordagens apresentam limitações significativas, como os elevados custos e a natureza invasiva, o que dificulta sua utilização para monitoramento da doença. Assim, o uso de biomarcadores fecais que possam refletir com acurácia a condição da mucosa intestinal tem um grande valor clínico.
Estudos de meta-análises realizados mostraram que a quantificação de calprotectina fecal é útil para discriminar a DII de outras doenças e também para prever a recidiva de pacientes com DII em remissão.
O consenso de 2023 da Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite Ulcerativa recomenda o uso da calprotectina como biomarcador para atividade da doença, monitoramento de recidiva e de resposta ao tratamento. Além disso, este biomarcador pode auxiliar no diagnóstico diferencial de quadros funcionais.
DII e inflamação intestinal
Os processos inflamatórios atuam como um mecanismo de defesa do nosso organismo contra infecções e danos nos tecidos. Contudo, a presença de um quadro inflamatório persistente está associado a diversas doenças crônicas como as síndromes metabólicas, incluindo diabetes tipo 2 e obesidade, além das doenças inflamatórias intestinais.
Na DII é de vital importância alcançar a remissão dos processos inflamatórios o mais cedo possível, a fim de prevenir a evolução e a possível resistência aos medicamentos utilizados no tratamento.
Os exames geralmente utilizados para avaliação da inflamação, como proteína C reativa e contagem de leucócitos, indicam uma inflamação sistêmica e podem estar alterados em diversos quadros clínicos.
Em relação a inflamação intestinal no contexto de pacientes com DII, estudos têm mostrado que a utilização da calprotectina fecal possui um custo efetivo baixo e pode reduzir a necessidade de exames endoscópicos, já que muitos pacientes com suspeita de DII que fazem colonoscopia possuem resultados negativos. Isso significa que a calprotectina fecal pode ajudar a direcionar os recursos médicos de forma mais eficaz, reduzindo procedimentos invasivos desnecessários.
O que é a calprotectina?
A calprotectina é uma proteína ligante de cálcio e zinco presente em grande quantidade nos neutrófilos, células sanguíneas do nosso sistema imunológico. A concentração de calprotectina nas fezes correlaciona-se com a quantidade de neutrófilos que migram para a mucosa intestinal durante o processo inflamatório.
Desta forma, indivíduos com condições gastrointestinais que causam inflamação possuem um aumento de calprotectina fecal em consequência do aumento de neutrófilos na mucosa intestinal. A utilização de exames para quantificação da calprotectina podem auxiliar como uma alternativa não invasiva na detecção da inflamação intestinal.
Outra vantagem é que a calprotectina possui uma elevada estabilidade em temperatura ambiente, além de estar distribuída de maneira uniforme nas fezes e tem uma alta sensibilidade para detectar a DII, tanto em adultos, quanto em crianças.
O que significa o valor da calprotectina?
Os valores de referência do exame podem ser interpretados da seguinte forma:
Valores de calprotectina inferiores a 80 µg/g: não indicam inflamação no trato gastrointestinal.
Valores de calprotectina entre 80-160 µg/g: podem indicar um grau leve de inflamação. Nestes casos recomenda-se repetir o exame após 4 a 6 semanas.
Valores de calprotectina acima de 160 µg/g: indicam a presença de infiltrados de neutrófilos no trato gastrointestinal e um quadro de inflamação ativa. Recomenda-se realizar exames adicionais para um diagnóstico clínico adequado.
Os exames que possibilitam a identificação de calprotectina fecal, como o PRObiome Funcional e o PRObiome Plus Funcional, podem ser correlacionados com as informações clínicas, auxiliando na conduta personalizada dos pacientes.
Procure o seu médico ou nutricionista e converse sobre como este exame pode ajudar a cuidar da sua saúde de forma mais precisa.
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