O microbioma vaginal é composto por microrganismos benéficos e comensais, que ajudam a estabilizar o pH do canal vaginal e impedir que bactérias patogênicas se desenvolvam.
Em mulheres saudáveis em idade reprodutiva, o microbioma vaginal geralmente mostra uma predominância do gênero Lactobacillus, sendo representado principalmente pelas espécies L. crispatus, L. iners, L. jensenii e L. gasseri. Os lactobacilos promovem a manutenção da homeostase vaginal e previnem a colonização e o crescimento de microrganismos nocivos, incluindo os responsáveis por infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Essa função defensiva é exercida por vários mecanismos, como redução do pH vaginal, produção de compostos bioativos, competição por nutrientes e sítios de adesão e regula o sistema imune. No entanto, a composição do microbioma vaginal pode variar ao longo da vida da mulher em resposta a fatores endógenos e exógenos, como infecções vaginais, idade, gravidez e tratamentos medicamentosos.
A alteração de populações de microrganismos no microbioma vaginal pode ter efeitos graves, incluindo a incidência de vaginose bacteriana e ISTs. Vários estudos observaram que esse distúrbio pode promover muitos problemas de saúde reprodutiva, incluindo doenças inflamatórias pélvicas. Outras pesquisas sugerem também que a vaginose bacteriana pode aumentar o impacto do papilomavírus humano (HPV), que está intimamente ligado à incidência de câncer cervical.
Desequilíbrios da microbiota vaginal
A microbiota vaginal tem grande importância na manutenção da saúde vaginal e na proteção contra doenças. Acredita-se que as bactérias que habitam a vagina humana sejam a primeira linha de defesa contra a infecção vaginal, como resultado da exclusão competitiva e da morte direta de outros microrganismos patogênicos.
As infecções urogenitais e a disbiose afetam mais de 1 bilhão de mulheres a cada ano, comprometendo seu bem-estar e afetando sua saúde reprodutiva. O desequilíbrio do microbioma vaginal pode estar associado a diversos fatores e sintomas como:
Candidíase
Infertilidade
Vaginose Bacteriana (VB)
Doença inflamatória pélvica
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)
Aborto espontâneo e parto prematuro
Dor pélvica
Corrimento vaginal
Dor na relação sexual
Irritação ou coceira vaginal
Ardência ou urgência ao urinar
Dor, desconforto ou ardência vaginal
A disbiose vaginal mais comum em todo o mundo é a vaginose bacteriana, que é caracterizada por uma mudança na composição microbiana.
Atualmente, já está amplamente estabelecido que a condição da vaginose bacteriana é caracterizada pela redução na concentração de lactobacilos e pela presença de bactérias anaeróbias, como Gardnerella vaginalis, Atopobium spp., Prevotella spp., além de altas concentrações de várias aminas biogênicas (putrescina, cadaverina e trimetilamina) e de ácidos graxos de cadeia curta (especialmente acetato e succinato), e baixos níveis de alguns aminoácidos (tirosina, glutamato).
Diversos estudos epidemiológicos têm relatado que a vaginose bacteriana representa um fator de risco para aquisição de IST.
Entre as infecções, a candidíase vulvovaginal afeta cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva pelo menos uma vez na vida, sendo que cerca de 5% delas apresentam recorrências. A candidíase vulvovaginal é causada por Candida spp. que, em condições particulares, em vez de fazer parte da microbiota vaginal normal, torna-se um patógeno fúngico oportunista robusto, com tendência ao crescimento excessivo C. albicans é responsável por 80 a 92% dos casos de candidíase vulvovaginal. A candidíase vulvovaginal representa a micose mucocutânea mais frequente causada por leveduras do gênero Candida, com impacto significativo na qualidade de vida das mulheres e nos custos médicos associados, devido ao alto índice de recorrência e ao aumento do nível de resistência aos antifúngicos.
Muitas mulheres também sofrem da chamada candidíase de repetição e de infecção urinária. Esses quadros podem estar relacionados à disbiose vaginal. O sistema urinário, reprodutivo e intestinal estão interligados. Por isso, deve-se ficar atento também ao equilíbrio intestinal para evitar condições e sintomas adversos, associados a essa conexão.
Eixo intestino-vagina
Um microbioma intestinal saudável contém bactérias benéficas que produzem ácidos graxos de cadeia curta, prevenindo a inflamação e mantendo o revestimento intestinal saudável.
Um estudo publicado na revista Science teve como foco entender como os esteroides sexuais alteram a microbiota intestinal e vaginal e afetam a saúde das mulheres. Segundo o artigo, o aumento repentino dos esteroides sexuais na puberdade está associado a uma menor diversidade da microbiota vaginal. Essa menor diversidade sugere que o aumento dos hormônios esteroides na puberdade cria um ambiente novo, definindo o intestino adulto da mulher e o microbioma vaginal.
Essa nova composição hormonal da mulher adulta estabelece um equilíbrio entre a interação de esteroides sexuais e a microbiota vaginal e intestinal, impactando profundamente a saúde da mulher em todos os estágios da vida.
A microbiota intestinal controla a circulação de estrogênio no estroboloma (o conjunto de bactérias dedicadas a manter o equilíbrio do estrogênio) e, por sua vez, em circulação, o estrogênio ajuda a definir a microbiota vaginal, promovendo a saúde do trato reprodutivo.
Os autores deste trabalho acreditam que os microbiomas intestinal e vaginal parecem ter funções críticas que se sobrepõem, estando relacionados a uma variedade de distúrbios e doenças que afetam mulheres ao longo da vida, incluindo:
a síndrome dos ovários policísticos,
infertilidade sem explicação,
obesidade e
câncer do endométrio.
Na verdade, quando os microbiomas vaginal e intestinal estão saudáveis, as bactérias enviam estímulos ao sistema imunológico que desativam a inflamação, garantindo uma barreira contra substâncias inflamatórias nocivas no intestino. Quando não estão equilibrados, os dois microbiomas podem sinalizar ao sistema imunológico e estimular a inflamação, em vez de evitá-la.
Assim, como as alterações na microbiota podem estar envolvidas em determinadas patologias e influenciar de forma significativa o bem-estar, é aconselhável acompanhar e entender sua composição, buscando indicadores de manutenção da saúde.
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Esteja atenta e, se possível, tenha um especialista de confiança para lhe apoiar. O quanto antes são identificados quaisquer distúrbios, melhor!
Fontes:
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