Descubra como a microbiota intestinal e vaginal estão relacionadas ao câncer e como ele pode impactar a eficácia de tratamentos como imunoterapia e quimioterapia.
Por Dra. Adriana Weinfeld Massaia
Infectologista e Head de Relacionamento Médico na BiomeHub.
Neste postblog será abordado:
A microbiota é a comunidade de microrganismos, como bactérias, fungos e vírus, que habitam o nosso corpo. Além de contribuir para o bom funcionamento do organismo, ela pode estar diretamente relacionada ao desenvolvimento de doenças como o câncer.
Estudos recentes revelam que a microbiota pode ativar vias oncogênicas, causar danos ao DNA e até mesmo modular o sistema imunológico. Além disso, destacam algumas espécies como biomarcadores de desenvolvimento de câncer, eventos adversos e eficácia de imunoterápicos e quimioterápicos.
Vamos explorar juntos como isso acontece e o que a ciência já descobriu sobre esse tema.
Principais relações entre a microbiota e diferentes tipos de câncer
Câncer Colorretal (CCA): Alguns exemplos de espécies de bactérias relacionadas ao CCA já foram descritas, como:
Escherichia coli pks+: produz colibactina, um metabólito que danifica o DNA e induz mutações.
Bacteroides fragilis enterotoxigênica: induz inflamação crônica.
Fusobacterium nucleatum: não é comum na microbiota intestinal. Sua presença ativa vias que favorecem o crescimento tumoral.
Câncer Cervical:
A redução de Lactobacillus na microbiota vaginal está associada ao aumento do risco de infecção por HPV e tumores cervicais.
Mulheres com microbiomas dominados por L. crispatus têm menor risco de neoplasias em comparação a aquelas com predominância de L. iners ou baixa abundância de Lactobacillus.
Leia também: Câncer cervical e o microbioma vaginal
Câncer de Pâncreas:
Espécies pró-inflamatórias do gênero Streptococcus e Veillonella foram encontradas em alta abundância em pacientes com câncer de pâncreas.
Além disso, bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (SCFA), como Faecalibacterium prausnitzii, Eubacterium rectale e Ruminococcus bicirculans, estavam reduzidos. A maior abundância de produtores de SCFA no intestino em relação a Ruminococcus torques, Haemophilus parainfluenzae e Neisseria bacilliformis foi associada a uma sobrevida global prolongada (OS).
Novas taxonomias, como Romboutsia timonensis e Methanobrevibacter smithii, destacaram-se como associadas negativa e positivamente, respectivamente, ao diagnóstico dessa malignidade.
Microbiota na eficácia de terapias anticâncer
Imunoterapia com inibidores de checkpoint imunitário (ICI):
Anti PD-L1: estudos mostram que espécies de Bifidobacterium spp., foram capazes de aprimorar a eficácia antitumoral do bloqueio de checkpoint PD-L1.
Anti PD-1: um estudo demonstrou que alta abundância de Faecalibacterium foi considerada favorável, enquanto a alta abundância de Bacteroides foi considerada desfavorável em relação à resposta à imunoterapia anti-PD-1 em pacientes com melanoma metastático.
Anti CTLA-4: estudos mostram que Bacteroides thetaiotaomicron e Bacteroides fragilis foram associados a uma maior eficácia do inibidor CTLA-4.
Quimioterapia:
Gemcitabina: certas bactérias intestinais, como alguns representantes da classe Gammaproteobactérias, metabolizam a gemcitabina, reduzindo sua eficácia no tratamento do câncer. O butirato, produzido pela fermentação bacteriana, potencializa os efeitos terapêuticos da gemcitabina, induzindo a apoptose nas células tumorais.
Irinotecano: o irinotecano é metabolizado no fígado e no intestino, onde a re-transformação do SN-38 por enzimas bacterianas pode contribuir para sua toxicidade. Pacientes submetidos a terapia de condicionamento mieloablativo ou transplante de células hematopoiéticas apresentam alterações na microbiota intestinal, cujos papéis na tumorigênese e nos efeitos adversos da quimioterapia necessitam de estudos adicionais.
Leia também: Bactérias podem ajudar o câncer de intestino a sobreviver à quimioterapia e radioterapia
Microbiota na prevenção e manejo do câncer
Microbiota na Etiologia do Câncer
Cerca de 15-20% dos cânceres são causados por agentes infecciosos.
Pacientes com câncer colorretal (CCR) possuem microbiota intestinal distinta, com a presença de fusobactérias, especialmente F. nucleatum, associada a tumores mais avançados.
Influência da Microbiota na Carcinogênese
Microrganismos podem danificar o DNA, interferir nos mecanismos de reparo do DNA e promover inflamação.
Produção de compostos tóxicos e inflamação são mecanismos-chave de carcinogênese mediados pela microbiota.
Proliferação e Disseminação Descontroladas
A microbiota regula genes relacionados à resposta imune e controle do ciclo celular, influenciando a proliferação celular.
As células cancerígenas evitam a supressão do crescimento, sendo insensíveis aos sinais regulatórios.
Instabilidade Genômica e Mutações
Microrganismos danificam o DNA e perturbam os mecanismos de reparo, aumentando a instabilidade genômica.
Espécies reativas de oxigênio (EROs) e espécies reativas de nitrogênio (ERNs) promovem inflamação crônica, contribuindo para o dano ao DNA.
Metabolismo Celular Desregulado
As células cancerígenas dependem de uma forma menos eficiente de metabolismo da glicose, influenciadas pela microbiota através de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs).
Inflamação que Promove o Tumor
O ambiente inflamatório favorece a iniciação e progressão do tumor, combinado com as capacidades imunossupressoras dos tumores malignos.
Exames de microbioma auxiliam na conduta clínica
Os exames de microbioma estão desempenhando um papel cada vez mais significativo na abordagem multidisciplinar do câncer, promovendo avanços importantes na prevenção, tratamento e manejo da doença. Conheça nossos exames de microbioma disponíveis:
Avaliação da microbiota intestinal
Identificação de bactérias com perfil inflamatório
Identificação de bactérias potencialmente relacionadas a efeitos adversos de imunoterapia e quimioterapia, baseado em evidências científicas
Identificação de taxonomias associadas ao câncer colorretal
Avaliação da microbiota vaginal
Identificação do perfil da microbiota vaginal (protetivo ou suscetível)
Identificação do Tipo de microbiota vaginal
Análise por sequenciamento de DNA dos subtipos de HPV
Compreender o microbioma é essencial para prevenir e tratar o câncer de forma mais eficaz. Invista em sua saúde com análises microbiológicas avançadas e descubra novas possibilidades para terapias personalizadas.
Ficou com alguma dúvida?
Nossa equipe está aqui para ajudar! Entre em contato conosco e receba a ajuda que precisa.
Referências:
Łaniewski, P., et al. The microbiome and gynaecological cancer development, prevention and therapy, 2020. https://doi.org/10.1038/s41585-020-0286-z
Song, M., et al. Influence of the Gut Microbiome, Diet, and Environment on Risk of Colorectal Cancer, 2020. https://doi.org/10.1053/j.gastro.2019.06.048
Gori, S., et al. Gut microbiota and cancer: How gut microbiota modulates activity, efficacy and toxicity of antitumoral therapy, 2019. https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.2019.09.003
Thomas, A. M., et al. Metagenomic analysis of colorectal cancer datasets identifies cross-cohort microbial diagnostic signatures and a link with choline degradation, 2019. https://doi.org/10.1038/s41591-019-0663-4
Zeller, Z., et al. Potential of fecal microbiota for early‐stage detection of colorectal cancer, 2014. https://doi.org/10.15252%2Fmsb.20145645
Sepich-Poore, G. D., et al. The microbiome and human cancer, 2021, https://doi.org/10.1126/science.abc4552
Algrafi, A. S., et al. Microbiota as a New Target in Cancer Pathogenesis and Treatment, 2023. https://doi.org/10.7759/cureus.47072
Fulbright, L. E., et al. The microbiome and the hallmarks of cancer, 2017. https://doi.org/10.1371%2Fjournal.ppat.1006480
Benešová, I., et al. Microbiota as the unifying factor behind the hallmarks of cancer, 2023. https://doi.org/10.1007/s00432-023-05244-6