Uma pesquisa feita pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) mostrou que 8 em cada 10 mulheres acreditam ser importante o cuidado íntimo para a saúde. Porém é significativa a parcela das mulheres que não se consultam com frequência ou nunca foram ao ginecologista.
O que chama atenção são as justificativas dadas pelas entrevistadas:
se consideram saudáveis,
não julgam importante,
tem vergonha,
não gostam ou
tem medo de detectar algo.
Mas o que muitas mulheres ainda não sabem é que a saúde íntima está diretamente associada aos microrganismos presentes na vagina, ou seja, a microbiota vaginal. E o mais interessante é que a maioria desses microrganismos não estão associados somente a doenças e sim a proteção e manutenção da saúde vaginal. Por isso, conhecer e entender mais sobre o microbioma vaginal pode despertar um maior interesse das mulheres a procurar seus ginecologistas.
Os microrganismos desse microbioma produzem barreiras naturais que inibem a proliferação de agentes danosos à saúde feminina.
O microbioma vaginal
O microbioma vaginal é composto por microrganismos benéficos e comensais, que ajudam a estabilizar o pH do canal vaginal e impedir que bactérias patogênicas se desenvolvam.
Constitui a principal linha de defesa contra a infecção vaginal, como resultado da exclusão competitiva e da morte direta de outros microrganismos patogênicos. Dependendo do seu equilíbrio, esses microrganismos podem proteger a saúde íntima da mulher ou causar doenças e situações indesejadas.
Importância dos Lactobacillus
A microbiota vaginal considerada ideal é composta pelo predomínio do gênero Lactobacillus, sendo representado principalmente pelas espécies L. crispatus, L. iners, L. jensenii e L. gasseri, e baixa diversidade de microrganismos.
As espécies de Lactobacillus promovem a manutenção da homeostase vaginal, previnem a colonização e o crescimento de microrganismos nocivos, incluindo os responsáveis por infecções sexualmente transmissíveis (IST). Essa função defensiva é exercida por vários mecanismos, como redução do pH vaginal (mantêm o valor de pH ideal para o equilíbrio do microbioma), produção de compostos antimicrobianos, como ácido lático, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas, que contribuem para um microbioma vaginal saudável e estabelecem uma defesa contra os patógenos invasores.
No entanto, a composição do microbioma vaginal pode variar ao longo da vida da mulher em resposta a fatores endógenos e exógenos, como infecções vaginais, idade, gravidez e tratamentos medicamentosos.
Desequilíbrio do microbioma vaginal
As infecções urogenitais e a disbiose afetam mais de 1 bilhão de mulheres a cada ano, comprometendo seu bem-estar e afetando sua saúde reprodutiva.
A alteração de populações de microrganismos no microbioma vaginal pode ter efeitos graves, incluindo a incidência de vaginose bacteriana e ISTs. Vários estudos observaram que esse distúrbio pode promover muitos problemas de saúde reprodutiva, incluindo doenças inflamatórias pélvicas (DIP) e infertilidade.
Também foi observado que a vaginose bacteriana pode aumentar o impacto do papilomavírus humano (HPV), que está intimamente ligado à incidência de câncer cervical. O desequilíbrio do microbioma vaginal pode estar associado a diversos fatores e sintomas como:
Candidíase
Infertilidade
Vaginose Bacteriana (VB)
Doença inflamatória pélvica
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)
Aborto espontâneo e parto prematuro
Dor pélvica
Corrimento vaginal
Dor na relação sexual
Irritação ou coceira vaginal
Ardência ou urgência ao urinar
Dor, desconforto ou ardência vaginal
É importante lembrar que fatores ambientais e genéticos também influenciam a microbiota vaginal.
Disbiose Vaginal
A disbiose vaginal mais comum em todo o mundo é a vaginose bacteriana, que é caracterizada por uma mudança na composição microbiana que compreende a redução da proporção de Lactobacillus e o aumento da proporção de bactérias anaeróbias, como Gardnerella vaginalis, Atopobium spp., Prevotella spp., além de altos níveis de alguns aminoácidos (tirosina, glutamato). Diversos estudos epidemiológicos têm relatado que a vaginose bacteriana representa um fator de risco para aquisição de IST.
Entre as infecções, a candidíase vulvovaginal afeta cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva pelo menos uma vez na vida, sendo que cerca de 5% delas apresentam recorrências. A candidíase vulvovaginal é causada por fungos do gênero Candida que, em condições particulares, em vez de fazer parte da microbiota vaginal normal, torna-se um patógeno fúngico oportunista com impacto significativo na qualidade de vida das mulheres e nos custos médicos associados, devido ao alto índice de recorrência e ao aumento do nível de resistência aos antifúngicos.
Cerca de 80 a 92% dos casos de candidíase vulvovaginal estão associados a espécie C. albicans, no entanto outras espécies também podem estar associadas às infecções, portanto a identificação correta desse agente etiológico pode direcionar uma conduta médica diferencial e mais assertiva.
Muitas mulheres também sofrem da chamada candidíase de repetição e de infecção urinária. Esses quadros podem estar relacionados à disbiose vaginal. O sistema urinário, reprodutivo e intestinal estão interligados. Por isso, deve-se ficar atento também ao equilíbrio intestinal para evitar condições e sintomas adversos, associados a essa conexão.
Procure um ginecologista
Esteja atenta e, se possível, tenha um especialista de confiança para lhe apoiar. Quanto antes são identificados quaisquer distúrbios, melhor!
O equilíbrio entre os bons hábitos e os cuidados com a saúde íntima, adquiridos pela consciência e acesso às informações, são essenciais para fortalecer uma vida saudável!
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Fontes:
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