O câncer colorretal (CCR) é um dos cânceres mais comuns e é um grande problema para a saúde global. Ele ocupa o terceiro lugar em termos de incidência e o segundo em mortalidade em todo o mundo.
A incidência e a mortalidade do CCR diminuíram de forma constante nas últimas décadas entre adultos com idade de 65 anos ou mais, devido à mudanças nos fatores de risco, como diminuição do tabagismo, introdução e disseminação de testes de triagem, como colonoscopia, e também melhorias no tratamento, no entanto, o oposto também foi observado em adultos com menos de 50 anos, com um aumento considerável dos casos. Essa tendência em adultos mais jovens levanta um estado de alerta.
O papel da microbiota no desenvolvimento do câncer colorretal
Fatores ambientais, como hábitos alimentares ocidentais, tabagismo, ganho de peso e obesidade, diabetes e consumo excessivo de álcool, desempenham papéis importantes no desenvolvimento do CCR. Entre os fatores de risco ambientais, a microbiota intestinal é um contribuinte bastante significativo.
A microbiota intestinal humana desempenha um papel protetor para o seu hospedeiro. Mas o contrário também pode ocorrer, ou seja, a disbiose da microbiota está associada ao desenvolvimento de várias doenças, pois a microbiota altera as funções fisiológicas do hospedeiro. Evidências indicam que a microbiota intestinal pode estar envolvida na carcinogênese, que é o processo de formação do câncer, e também na progressão e metástase do CCR.
Leia também: O que é a disbiose intestinal?
A microbiota intestinal pode influenciar a carcinogênese colorretal por uma variedade de mecanismos, incluindo fatores derivados de microrganismos, como metabólitos ou genotoxinas, que são toxinas que induzem alterações no material genético do hospedeiro.
Além disso, algumas bactérias podem ser carcinogênicas ou se proliferam como microrganismos oportunistas no microambiente associado ao tumor. Além disso, as interações hospedeiro-microrganismo podem contribuir para a ativação de vias de sinalização levando a alterações moleculares que induzem à progressão do câncer colorretal.
O trato gastrointestinal fornece uma interface importante para uma “conversa” entre a microbiota intestinal e o sistema imunológico do hospedeiro. A inflamação crônica é uma marca registrada e um fator de risco estabelecido para o desenvolvimento do CCR, e por isso pacientes com doença inflamatória intestinal têm um risco maior do que a população geral de desenvolver o câncer.
Leia também: O que é a doença inflamatória intestinal
Assinatura bacteriana no câncer colorretal
Os estudos em humanos geralmente utilizam uma abordagem metagenômica para investigar o papel da microbiota intestinal no CCR.
Diversos estudos mostraram que a microbiota intestinal relacionada ao câncer colorretal é diferente em comparação com a microbiota intestinal de indivíduos saudáveis utilizados como controles. Embora a microbiota dos pacientes com a doença não apresente alterações de diversidade, pode apresentar uma maior riqueza, devido à presença de espécies bacterianas associadas à microbiota da cavidade oral, e uma menor abundância de microrganismos potencialmente protetores.
Pacientes com câncer colorretal apresentam uma assinatura específica de bactérias que compõem a microbiota intestinal, com a presença das seguintes bactérias:
Fusobacterium nucleatum
Solobacterium moorei
Porphyromonas asaccharolytica
Peptostreptococcus stomatis
Parvimonas spp.
Clostridium symbiosum
Gemella morbillorum
Estudos preliminares sugerem que a microbiota intestinal pode ser utilizada também como biomarcador prognóstico após o tratamento cirúrgico do câncer colorretal.
Foi observado que a maior proporção de Fusobacterium nucleatum em amostras de tecido de câncer colorretal está relacionada a um pior prognóstico dos pacientes e a resistência à quimioterapia.
Modulação da microbiota intestinal para prevenção do CCR
Já é sabido que as intervenções dietéticas podem remodelar nossa microbiota e por tal motivo tem surgido muito interesse em implementar intervenções dietéticas que possibilitem prevenir o desenvolvimento do CCR, bem como dificultar sua progressão.
Um estudo populacional realizado nos Estados Unidos estimou que 38,3% dos casos incipientes de CCR foram relacionados a dietas pobres em grãos integrais, baixa em produtos lácteos e rica em carnes processadas. Portanto, há evidências de que o CCR está associado a certos componentes da dieta.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer recomenda que as pessoas moderem o consumo de carne processada. Em apoio a esta recomendação, um acompanhamento de vegetarianos por até 7,3 anos revelou um risco aproximadamente 20% menor de CCR em comparação com não vegetarianos.
Além de cuidados com a alimentação, a utilização de alguns tipos de probióticos vem sendo estudada a fim de reduzir riscos de infecção intestinal e inflamação subsequente, potencialmente prevenindo o desenvolvimento do CCR, bem como reduzir as complicações em pacientes com câncer colorretal.
Também vem recebendo bastante destaque os pós-bióticos, que são substâncias secretadas pela microbiota intestinal e exercem atividade biológica benéfica para o hospedeiro. Os pós-bióticos mais estudados são os ácidos graxos de cadeia curta - AGCC.
Em alguns casos, os pós-biótivos podem ser uma estratégia eficaz e mais segura quando comparada à ingestão de microrganismos viáveis, os probióticos. A hipótese é que os pós-bióticos possam suprimir a inflamação no cólon e restaurar a integridade da barreira intestinal. Mas, ainda são necessários mais estudos comprobatórios.
PRObiome como apoio ao diagnóstico e tratamento do câncer colorretal
A microbiota intestinal tem sido área de pesquisa crescente por ter implicações na carcinogênese, conforme mencionado, podendo promover, prevenir ou até mesmo influenciar os resultados terapêuticos, o que realça a complexa relação entre a microbiota e o hospedeiro.
O exame de microbiota intestinal PRObiome pode auxiliar na triagem dos pacientes identificando perfis de microbiota associados ao câncer colorretal, porém não substitui o diagnóstico. Além disso, o PRObiome pode auxiliar no acompanhamento da microbiota intestinal frente às terapias e estratégias de prevenção e nas propostas de tratamento ao paciente.
Converse com seu médico e nutricionista para entender melhor as formas possíveis de modular a sua microbiota intestinal com o objetivo de prevenção ou auxílio ao tratamento do câncer colorretal.
Para mais informações acesse o nosso site: https://www.biome-hub.com/
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