Artigo comentado “Acute and persistent effects of commonly used antibiotics on the gut microbiome and resistome in healthy adults”
Desde a sua introdução na prática clínica em 1940, os antibióticos tornaram-se fundamentais para a sobrevivência dos seres humanos. Utilizados no tratamento de infecções bacterianas, esses medicamentos não agem especificamente nos microrganismos patogênicos, mas também nos comensais da nossa microbiota.
Consequentemente, o uso de antibióticos pode promover mudanças agudas ou persistentes no microbioma do hospedeiro, assim como selecionar genes de resistência tanto em microrganismos comensais como em patogênicos.
Há poucos estudos na literatura que abordam este assunto, a maioria deles são estudos retrospectivos de pacientes severamente doentes e internados em hospitais, o que não é a abordagem mais adequada, pois são indivíduos de alto risco para infecções e que, na maioria das vezes, estão em tratamento profilático ou empírico com antibióticos. Estudos sobre a exposição aos antibióticos e a arquitetura taxonômica e funcional do microbioma de indivíduos saudáveis ainda é bastante limitada.
Anthony e colaboradores realizaram um estudo utilizando regimes de tratamento com quatro antibióticos de três classes diferentes:
Azitromicina,
Levofloxacina,
Cefpodoxima,
Azitromicina + cefpodoxima.
Esses medicamentos são usualmente prescritos no tratamento de pneumonias comunitárias, para investigar a alteração taxonômica, resistoma e funcional da microbiota intestinal de indivíduos saudáveis.
Por meio de cultura microbiológica quantitativa e do sequenciamento metagenômico, os pesquisadores avaliaram o efeito agudo da perturbação antibiótica e a cicatriz antibiótica, que é o aumento no aparecimento de genes de resistência em comparação com o estado pré-antibiótico, observado em até seis meses após à exposição ao antibiótico. A posologia e a duração do tratamento foi realizada conforme recomendações e durou cinco dias.
Foi observada a diminuição de espécies bacterianas viáveis e variabilidade na composição da microbiota um dia após o fim do tratamento com antibióticos. Quando administrados cefpodoxima e cefpodoxima + azitromicina, observou-se um aumento de bactérias do filo Bacteroidetes e do gênero Clostridium, enquanto nos outros dois regimes de medicamentos foram observados um aumento do filo Firmicutes. Adicionalmente, foram encontrados três genes de resistência pós-antibiótico, sendo uma beta-lactamase (cfxA) e dois genes de resistência aos macrolídeos (tetO e tet40), que foram diretamente relacionados com os grupos de bactérias dominantes após o regime medicamentoso.
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Com esses dados é possível constatar que a perturbação antibiótica cria oportunidades para que espécies carregando genes de resistência dominem transitoriamente o microbioma. O microbioma intestinal da maioria dos voluntários retornaram ao nível pré-antibiótico em dois meses após o final do tratamento. Os indivíduos que utilizaram azitromicina foram os que demoraram mais tempo para recuperar a microbiota. Além disso, três dos vinte voluntários do estudo tiveram a sua microbiota alterada drasticamente, a níveis de pacientes gravemente doentes, e após dois meses de tratamento recuperaram cerca de 60% da composição da sua microbiota original.
O uso de antimicrobianos promove uma espécie de cicatriz na microbiota intestinal, tanto na sua composição quanto no aumento da carga de genes de resistência, que pode ser transitória ou prolongada.
Vale ressaltar que a administração de azitromicina resultou em um período de recuperação maior da microbiota dos voluntários e que este antibiótico foi amplamente utilizado na pandemia, o que nos acende um alerta em relação à utilização responsável desses medicamentos.
Conhecer a composição e características da microbiota intestinal pode auxiliar no manejo das bactérias que compõe o microbioma. Converse com um profissional da saúde para auxiliar você a entender os sinais de alerta do seu intestino.
Explore e cuide do seu MICROBIOMA INTESTINAL. Ele diz muito sobre você!
Fonte:
Anthony, Winston E et al. “Acute and persistent effects of commonly used antibiotics on the gut microbiome and resistome in healthy adults.” Cell reports, 2022. doi:10.1016/j.celrep.2022.110649.