O microbioma intestinal de pacientes com fibromialgia pode carregar informações singulares, trazendo uma nova perspectiva para a ciência.
Nos últimos anos, com o desenvolvimento de novas tecnologias, diversos estudos têm explorado o papel das bactérias intestinais na saúde e nas doenças. Hoje, alguns pesquisadores focam em como a microbiota pode servir de apoio diagnóstico, direcionamento de conduta clínica, e até mesmo para a prospecção de novos tratamentos.
Dentre as doenças em que há evidências sobre o papel crítico do microbioma intestinal estão as doenças metabólicas, cardiovasculares, oncológicas, além de doenças neurológicas e transtornos psiquiátricos. E devido a um crescente entendimento das interações entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso, também conhecido como o “eixo intestino-cérebro”, estudos avaliam a hipótese de que o microbioma intestinal também possa afetar o processamento e percepção da dor. Possíveis mecanismos incluem rompimento da barreira intestinal, ativação imune e sensibilização de neurônios sensoriais.
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A fibromialgia é uma das formas mais comuns de dor crônica generalizada, especialmente em tendões e articulações, e atinge principalmente indivíduos do sexo feminino.
No Brasil, a fibromialgia atinge pelo menos 2,5% da população adulta, ou seja, mais de 3,5 milhões de pessoas. Essa doença é caracterizada por dor, exaustão física, distúrbios do sono e sintomas cognitivos, além de distúrbios gastrointestinais, levando a um prejuízo significativo na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. O diagnóstico é baseado no julgamento clínico e pode variar de acordo com a experiência de cada médico. Além disso, os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, como por exemplo, artrite e artrose, e até o momento não existe um biomarcador laboratorial que possa auxiliar no diagnóstico.
Microbioma intestinal e fibromialgia
Em 2018, um grupo de pesquisadores do Hospital Geral de Montreal da Universidade McGill, no Canadá, demonstrou pela primeira vez uma alteração do microbioma intestinal de pacientes com fibromialgia. E até o momento, alguns outros estudos mostram uma correlação entre essa doença e a composição e função metabólica da microbiota intestinal. Através da amplificação do 16S rRNA e do sequenciamento de todo o genoma já foram identificadas diferenças significativas em unidades taxonômicas operacionais (OTUs), e em algumas espécies, entre pacientes com fibromialgia e indivíduos controle.
Diferenças significativas foram observadas, por exemplo, na abundância relativa de espécies bacterianas produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (SCFA): Faecalibacterium prausnitzii e Bacteroides uniformis foram encontrados em menor abundância relativa em pacientes com fibromialgia, enquanto espécies como Intestinimonas butyriciproducens, Flavonifractor plautii, Butyricoccus desmolans, Eisenbergiella tayi e Eisenbergiella massiliensis estavam presentes em maior abundância. Além disso, a abundância diferencial de algumas espécies foi correlacionada com a gravidade dos sintomas.
Mas as alterações no microbioma intestinal de indivíduos com fibromialgia não se limitam à composição da comunidade bacteriana, e envolvem alterações significativas na função metabólica dos microrganismos. Estudos com análise metabolômica mostram, por exemplo, alterações em alguns ácidos orgânicos, como níveis mais altos de ácido butírico, níveis mais baixos de ácido propiônico e níveis semelhantes de ácido láctico entre pacientes com fibromialgia em comparação com indivíduos controles.
Embora os estudos mostrem alterações significativas na composição e função do microbioma intestinal de pacientes com fibromialgia, ainda não está claro se essas alterações têm um papel causal na patogênese da síndrome ou se são apenas seu prenúncio. Assim, estudos futuros ajudarão a compreender e determinar o papel do microbioma na fibromialgia, podendo servir para o desenvolvimento e validação de um método diagnóstico, auxiliar na conduta clínica, ou possibilitar a manipulação direcionada do microbioma intestinal como modalidade de tratamento para fibromialgia.
E aqui na BiomeHub possuímos infraestrutura laboratorial, equipe técnica especializada e uma rede de instituições de pesquisa e de saúde, que permitem a realização de estudos na área de microbioma.
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Fontes:
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