Você já ouviu falar sobre o estroboloma?
Este termo pode soar como algo saído de um livro de ficção científica, mas na verdade, trata-se de um conjunto de genes bacterianos presentes no nosso intestino, que desempenham um papel crucial na metabolização do estrogênio.
Parece mais complicado do que realmente é! Vamos desvendar esse mistério e entender por que a nutrição desempenha um papel tão importante na saúde íntima feminina.
Para começar, precisamos lembrar que:
O estrogênio é um hormônio sexual e que tem papel fundamental em vários aspectos da saúde feminina.
E como todo hormônio, a quantidade dele no corpo deve estar sempre em equilíbrio. Alterações no estroboloma podem desencadear desequilíbrios hormonais importantes e consequentemente, contribuir para doenças relacionadas, como: Endometriose, Síndrome do Ovário Policístico e Câncer de mama.
Como isso acontece na prática?
O estrogênio pode estar na forma livre, ou seja, na sua forma ativa, ou conjugado. A conjugação do estrogênio acontece no fígado, onde recebe uma espécie de sinalização indicando que essa molécula poderá ser excretada pelo intestino. E é aí que começa a atuação do estroboloma.
Lembre-se que no intestino temos a nossa microbiota intestinal: uma comunidade complexa de microrganismos (bactérias, fungos, archaeas, vírus e etc.) que habitam o trato gastrointestinal e impactam diversas funções no organismo. Algumas dessas bactérias produzem uma enzima chamada beta-glucuronidase. O estroboloma refere-se justamente aos genes bacterianos que são capazes de metabolizar o estrogênio. Imagine o estroboloma como uma espécie de central metabólica, lá no Intestino.
A enzima beta-glucuronidase consegue desconjugar o estrogênio. Isto significa que ela consegue retirar a sinalização que o estrogênio recebeu anteriormente lá no fígado e agora, esse estrogênio que seria excretado, pode ser novamente absorvido pelo organismo.
Desta maneira, se a microbiota intestinal está em equilíbrio, os processos de absorção e excreção do estrogênio ocorrem adequadamente e assim, a quantidade de estrogênio no organismo não é impactada. Já quando a microbiota intestinal está sob estado de disbiose, podemos aumentar ou diminuir os genes que favorecem a desconjugação dos estrogênios, uma vez que teremos um desequilíbrio na quantidade de enzima beta-glucuronidase.
Leia também: O que é a disbiose intestinal?
Você percebe a importância da microbiota intestinal nesse contexto?
Por exemplo, em mulheres com baixa atividade da enzima beta-glucuronidase na microbiota intestinal, pode ocorrer a hipoestrogenia, que está associada a Síndrome do Ovário Policístico, Obesidade, Síndrome Metabólica e Síndrome Pós menopausa.
Enquanto que, em casos de alta atividade da enzima, ocorre uma maior desconjugação dos estrogênios, levando à sua reabsorção e elevação dos níveis circulantes, causando uma hiperestrogenia. Essa exposição prolongada a estrogênios desconjugados é considerada um fator de risco para Endometriose, Miomas uterinos, câncer do endométrio e de mamas.
Outra função importante do estrogênio é na microbiota vaginal, pois ele estimula a produção de glicogênio. Este, por sua vez, serve como substrato para o crescimento dos Lactobacillus no canal vaginal. E são os Lactobacillus que protegem a saúde íntima através da produção de compostos antimicrobianos, mantendo o pH vaginal adequado, fortalecendo o sistema imune e evitando a proliferação de patógenos nocivos.
O papel da nutrição na saúde vaginal
A nutrição atua como uma peça fundamental do quebra-cabeça que liga o eixo intestino-vagina. A nossa alimentação influencia diretamente a composição e a atividade do microbioma intestinal, afetando, por consequência, o funcionamento do estroboloma, que por sua vez, impacta diretamente a microbiota vaginal e a saúde feminina.
Uma dieta rica em fibras, alimentos fermentados e prebióticos pode promover um microbioma intestinal saudável e equilibrado, contribuindo para uma melhor metabolização dos estrogênios.
Além disso, certos compostos, como os fitoestrógenos, encontrados na soja, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoa, etc), sementes (linhaça, gergelim e girassol, podem influenciar a atividade dos receptores de estrogênio, exercendo efeitos benéficos sobre a saúde hormonal.
Portanto, é essencial darmos atenção não apenas ao que comemos, mas também ao impacto que nossas escolhas alimentares têm sobre a saúde vaginal e hormonal. Ao nutrir o corpo com os alimentos certos, estamos contribuindo para o equilíbrio do estroboloma e, consequentemente, para uma vida mais saudável e equilibrada.
Lembre-se: uma dieta balanceada e nutritiva é a chave para o funcionamento adequado do estroboloma.
Referências:
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