A Doença Inflamatória Intestinal (DII) e a Síndrome do Intestino Irritável (SII) são os dois distúrbios gastrointestinais mais comuns em todo o mundo. Ambos os distúrbios impõem uma grande carga aos pacientes, prejudicando sua qualidade de vida, bem como sua capacidade de trabalhar e socializar.
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O que sabemos sobre a Doença Inflamatória Intestinal?
As Doenças Inflamatórias Intestinais são distúrbios crônicos, multifatoriais, caracterizadas pela inflamação de forma recidiva do trato gastrointestinal. Particularidades ambientais como tabagismo, hábitos alimentares e estilo de vida, associado com desequilíbrios entre resposta imune efetora e reguladora podem contribuir para o surgimento das DII.
Além disso, alterações qualitativas e quantitativas da microbiota intestinal em indivíduos geneticamente suscetíveis, podem resultar em mau funcionamento da barreira epitelial intestinal e, consequentemente, favorecer o estabelecimento das doenças.
A DII apresenta dois fenótipos clínicos principais:
1. Doença de Crohn (DC) é frequentemente transmural, ou seja, a inflamação pode atingir toda a espessura da parede do intestino, e pode envolver qualquer parte do trato gastrointestinal de forma intermitente, da boca ao ânus, sendo mais frequente na região do íleo, que é a parte final do intestino delgado.
2. Retocolite Ulcerativa (RCU) também chamada de Colite Ulcerativa, envolve principalmente inflamação crônica da mucosa limitada ao cólon, que geralmente surge no reto e se estende de forma contínua em parte ou em todo o cólon. Ao contrário da DC, as lesões da RCU são frequentemente limitadas à mucosa epitelial.
O que causa a DII e quais são os principais sintomas?
Apesar dos avanços nas pesquisas sobre a DII, a etiologia e a fisiopatologia ainda são complexas e desconhecidas em grande parte.
Clinicamente, inicia-se de forma precoce na vida com vários tipos de sintomas, incluindo desconforto abdominal, diarreia, fezes com sangue, febre, fadiga e perda de peso. Há a atração de neutrófilos e macrófagos que produzem citocinas, enzimas proteolíticas e radicais que resultam em inflamação e ulceração.
Tanto a Doença de Crohn quanto a Retocolite Ulcerativa compartilham o mesmo curso clínico, as diferenças estão confinadas ao local e natureza das lesões. Além dessas manifestações comumente relatadas, os pacientes com DII frequentemente se queixam de complicações extra-intestinais que podem envolver problemas dermatológicos, oculares, hepatobiliares e urológicos (pedras nos rins). Os pacientes também podem apresentar complicações perianais que são exclusivamente limitadas a pacientes com DC.
DII e microbiota intestinal
Desde o século 19, quando as DII foram descritas pela primeira vez, uma base microbiana já foi associada. A patogênese da DII consiste na inflamação da mucosa e presume-se que a microbiota intestinal desempenha um grande papel.
As Proteobactérias, em especial a espécie Escherichia coli do tipo aderente-invasivo, podem estar aumentadas em pacientes com DII. Com o aumento das populações capazes de desencadear colite, é esperado que outras espécies desse microambiente, com perfil protetor, estejam diminuídas, principalmente às produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato.
Os AGCC são produzidos pelas bactérias intestinais, a partir da fermentação do amido resistente ou de carboidratos não digeríveis, provenientes da nossa dieta. Esses AGCC exercem importante papel sobre o sistema imune. O acetato, o butirato e o propionato agem como anti-inflamatórios no intestino, auxiliando na diferenciação de uma classe de células muito importantes na regulação da resposta imune, denominadas Treg, além disso, esses AGCC servem como nutrientes aos colonócitos (células pertencentes ao cólon no intestino grosso).
A frequente diminuição das bactérias produtoras de AGCC em pacientes com DII reforça a importância desses microrganismos na manutenção da homeostase intestinal, modulando fatores e produzindo substâncias importantes.
Tratamento
Devido à complexidade da DC e da RCU, o tratamento ainda permanece difícil, sendo utilizado imunobiológicos e imunossupressores para bloquear a produção de citocinas, receptores ou moléculas de sinalização que medeiam a ação das células inflamatórias, e em alguns casos há a necessidade de cirurgia.
A dieta exerce um papel importante e seguro, quando se trata de influenciar a composição da microbiota intestinal em pacientes com DII.
Com relação ao uso de probióticos, as evidências ainda são inconclusivas, em alguns casos parece haver benefícios, em outros, seu uso é desestimulado. Lembrando que somente o profissional capacitado poderá elaborar uma dietoterapia e probióticoterapia adequada a cada caso.
A manipulação do microbioma pelo transplante fecal têm recebido bastante atenção, no entanto, mais estudos para se entender os melhores protocolos, a via de realização, o doador e acompanhamentos de longo prazo se fazem necessários, pois parecem ter impacto importante nos resultados. Ao que tudo indica, os dados disponíveis sugerem que o transplante de fezes seja capaz de alterar de maneira significativa o microbioma do paciente transplantado.
Exame de microbiota: um aliado ao diagnóstico e tratamento
O exame de microbioma intestinal PRObiome, pode auxiliar o profissional da saúde a elaborar estratégias que promovam a modulação dos microrganismos presentes no intestino.
No laudo do exame será apresentado as principais bactérias presentes na amostra do paciente, bem como se a população de microrganismos é considerada em equilíbrio, ou se merece atenção por parte do profissional.
Além disso, o exame também conta com um bloco sobre as bactérias marcadoras de saúde, apresentando a porcentagem em que essas bactérias estão presentes na amostra do paciente. Com essas informações, o profissional de saúde poderá ser muito mais preciso no diagnóstico, bem como no tratamento do paciente com DII, uma vez que já está bem caracterizado na literatura o perfil bacteriano da Doença de Crohn e da Retocolite Ulcerativa.
É interessante saber que o exame PRObiome além de auxiliar como apoio ao diagnóstico, ele também contribui para o profissional acompanhar como a microbiota está se comportando frente à terapias e estratégias propostas ao paciente. Outro ponto positivo do exame PRObiome é o fato dele não ser invasivo, com isso, pode ser repetido com mais frequência a fim de monitorar esse parâmetro intestinal. O PRObiome não avalia a integridade da mucosa intestinal, no entanto permite acompanhar a evolução da microbiota ao longo do tempo.
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Fontes:
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