Artigo comentado: Gut microbiota composition and functional changes in inflammatory bowel disease and irritable bowel syndrome
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) e as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) são distúrbios gastrointestinais frequentes que afetam parcela significativa da população mundial.
Estima-se que de 7 a 21% da população sofra de SII e que de 0,3 a 0,5% tenha DII. Ambos os distúrbios trazem problemas para a vida dos pacientes, prejudicando sua qualidade de vida, capacidade de trabalhar e de ter uma vida social normal.
As DII compreendem a Doença de Crohn (DC) e a Colite Ulcerativa (CU), sendo caracterizadas essencialmente pela inflamação intestinal. Já a SII é definida como uma combinação de sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, constipação ou diarreia, mas de etiologia ainda não compreendida.
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Buscando entender melhor as diferenças entre as duas condições, um estudo realizado por pesquisadores holandeses procurou entender como é a relação da nossa flora, ou microbiota, intestinal. Os dados obtidos foram publicados na revista científica Science Translational Medicine no final de 2018, e demonstraram que o nosso microbioma intestinal possui forte relação com esses distúrbios.
Os pesquisadores analisaram amostras de fezes de 1.792 indivíduos no total, sendo:
355 pacientes com DII,
412 pacientes com SII e
1.025 indivíduos sem essas condições.
Um dos pontos que mais chamou a atenção no estudo foram as alterações observadas na abundância de bactérias benéficas, as quais são produtoras de moléculas com propriedades anti-inflamatórias e de importância para a saúde intestinal.
Dentre essas bactérias, a espécie Faecalibacterium prausnitzii teve menor abundância nas amostras de pacientes com SII e DII, além da espécie Roseburia intestinalis que teve menor abundância nas amostras de DII.
Além disso, os pesquisadores observaram que os pacientes com DIIs, principalmente com DC, apresentam uma maior abundância de bactérias da família Enterobacteriaceae, a qual é composta por espécies produtoras de moléculas pró-inflamatórias e algumas bactérias patogênicas. Enquanto que para os pacientes com SII, foi observada uma maior abundância de espécies do gênero Streptococcus.
A partir das diferenças observadas no microbioma de indivíduos com SII e DII, os pesquisadores decidiram investigar se a composição da microbiota intestinal poderia servir como uma ferramenta no diagnóstico, auxiliando na diferenciação dessas condições.
Assim, eles aplicaram a técnica de Machine Learning e identificaram que o perfil de bactérias presente no intestino humano tem uma melhor precisão não somente para distinguir as condições, como também potencial para servir de biomarcador para inflamação intestinal de forma semelhante à calprotectina, que é o marcador mais utilizado nos exames fecais para avaliar inflamação.
Machine Learning é um método de análise baseado em inteligência artificial, em que a partir de um conjunto de dados é possível reconhecer padrões que permitem fazer previsões.
Por fim, foram observadas alterações funcionais importantes na microbiota intestinal de indivíduos com SII e DII, como a diminuição das vias de fermentação envolvidas na produção de moléculas anti-inflamatórias, os ácidos graxos de cadeia curta, e também maior abundância de fatores de virulência.
Além disso, as alterações na composição do microbioma de pacientes com DII e SII tiveram um significativo impacto na presença de resistência bacteriana a antibióticos. Em pacientes com DC foram identificados 142 genes de resistência a antibióticos, enquanto em pacientes com CU foram encontrados 66 genes e em pacientes com SII foram encontrados 32 genes. Esses genes de resistência a antibióticos estavam envolvidos em mecanismos de degradação e de remoção/expulsão dos antibióticos das células bacterianas.
Fatores de virulência são características e/ou mecanismos que as bactérias possuem para adesão à mucosa intestinal, evasão do sistema imunológico ou supressão da resposta imune do hospedeiro.
Desse modo, o conhecimento sobre a composição do nosso microbioma intestinal pode ser um bom aliado e ter implicações na prática clínica como uma ferramenta de diferenciação entre SII e DII.
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Nem sempre o diagnóstico de doenças intestinais complexas é fácil, e ainda envolve muitos aspectos da observação clínica do paciente. A possibilidade de utilizar exames inovadores têm proporcionado um grande passo para o conhecimento sobre o microbioma intestinal, permitindo diagnósticos mais precisos e individualizados.
Os exames que possibilitam a identificação das bactérias presentes na microbiota intestinal através do sequenciamento de DNA, como o PRObiome, podem ser correlacionados com as informações clínicas, auxiliando na conduta personalizada dos pacientes. Além disso, podem auxiliar no acompanhamento frente às terapias e estratégias de modulação da microbiota intestinal.
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Fonte:
VICH VILA, ARNAU et al. Gut microbiota composition and functional changes in inflammatory bowel disease and irritable bowel syndrome. Sciense Translational Medicine. 2018. https://doi.org/10.1126/scitranslmed.aap8914